Denunciar as consequências ruinosas do capitalismo


Outros, porém, mostram-se tímidos e incertos quanto ao sistema económico conhecido pelo nome de capitalismo, do qual a Igreja não tem cessado de denunciar as graves consequências. A Igreja, de facto, apontou não somente os abusos do capital e do próprio direito de propriedade que o mesmo sistema promove e defende, mas tem igualmente ensinado que o capital e a propriedade devem ser instrumentos da produção em proveito de toda a sociedade e meios de manutenção e de defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Os erros dos dois sistemas económicos [capitalismo e comunismo] e as ruinosas consequências que deles derivam devem a todos convencer, e especialmente aos sacerdotes, a manter-se fiéis à doutrina social da Igreja e a difundir-lhe o conhecimento e a aplicação prática. Essa doutrina é, realmente, a única que pode remediar os males denunciados e tão dolorosamente difundidos: ela une e aperfeiçoa as exigências da justiça e os deveres da caridade, promove tal ordem social que não oprima os cidadãos e não os isole num egoísmo seco, mas a todos una na harmonia das relações e nos vínculos da solidariedade fraternal.

Papa Pio XII in exortação apostólica «Menti Nostrae», 23 de Setembro de 1950.

Inverno Português


São cheios de encanto em Portugal os dias claros de Inverno, quando a paisagem se apresenta, como através de cristal polido, mais nítida e toda ressunante de vernizes. Parece então que o azul do céu se derrama por cântaros de oiro na nossa alma, enquanto na atmosfera brilham chispas de luz e reflexos perdidos que a terra, embebida de sol, já não comporta. Despidas as árvores da sua verde cobertura, nenhum abrigo oferecem à sombra, opaca e lenta, que agora se refugia nos colos da serra aguardando o cair da tarde para logo se expandir no seu império nocturno… É nestas horas palpitantes, doiradas e calmas, em que nos sentimos imbuídos não sabemos de que sentimento de paz e conciliação, que essas simpáticas casinhas à beira da estrada, ou entre os campos, melhor nos revelam o seu português sentido.

Raul Lino in «Casas Portuguesas».

Ave Pater Europae


Celebram-se hoje os 1200 anos da morte de Carlos Magno, Imperador dos Romanos, Rei dos Francos e "Pai da Europa". – Beato Carlos Magno, rogai por nós!

Bem-vindos à Selva!


É-nos dito que a tradição é desnecessária, que a religião é inútil e que amar o nosso país conduz à guerra. É-nos dito que a globalização é uma lei natural e que a sociedade multicultural nos vai enriquecer. Mas nós não acreditamos nisso. Não estamos convencidos, porque a cada dia vemos a realidade.

Markus Willinger in «Generation Identity».

A Monarquia cristã

Rei David

A Realeza antiga encarnava fundamentalmente o tipo patriarcal de sociedade. Ressurgido através da família, é esse tipo que persiste na formação das monarquias medievais. Com estas, vinha, porém, fecundar-lhe a obra, a lei moral que faltara às instituições do paganismo.
A consciência cristã, traçando limites ao poder, fazia dos Reis, não tiranos ao modo clássico, mas magistrados, conforme aos Juízes de Israel.

António Sardinha in «Ao Princípio era o Verbo», 1924.

Absolutismo não é Despotismo


Quando os povos proclamaram: Viva o nosso Rei Absoluto, não quiseram dizer outra coisa, senão um Rei como os que sempre tivemos, sem restrições que lhe limitassem o uso das suas Faculdades Reais. Absoluto vem como contraposto de constitucional; porém os revolucionários, que para fazerem os Reis odiosos os confundem sempre com os déspotas, e que na sua terminologia demagógica inventaram também a palavra absolutismo como um sinónimo de despotismo, interpretam Rei absoluto, como se se dissesse Rei despótico.

§

Mas que é o despotismo? Não confundamos ideias, que é necessário distinguir. O despotismo, segundo as noções dos Publicistas, é aquela monstruosa espécie de Governo, onde um só, sem lei e sem regra, move tudo pela sua vontade, e neste sentido as suas raias estão em contacto com as do Governo monárquico absoluto, onde o Príncipe reúne os três poderes: legislativo, executivo e judicial. No sentido vulgar porém o Governo despótico ou tirânico, que se toma pela mesma coisa, é todo aquele que não reconhece outro princípio senão a vontade de quem governa, ou seja um só, ou sejam muitos, porque o distintivo consiste na natureza do mesmo Governo, e não no número das pessoas que o exercitam. A Aristocracia Veneziana não era menos despótica com os seus procedimentos inquisitoriais, do que qualquer das Monarquias absolutas da Europa; e a Democracia Francesa imolou mais vítimas com o aparato legal, e sempre em nome da liberdade e dos direitos do homem, do que todos os Tiranos do Bósforo nos seus frenesins sanguinários.

José Acúrsio das Neves in «Cartas de um Português aos seus Concidadãos», 1822.

Os Santos Reis


A noite é fria. A lua é fria. A aragem corta.
Gelam os poços... P'lo silêncio fundo

Calaram-se os ganhões, de porta em porta
Cantando, ensamarrados, as janeiras.

Os campos amortalham-se em geada.
Não sei o que será das sementeiras
Com essa peneirinha arrenegada!

Quem são os três cavaleiros
que fazem sombra no mar?
Quem são, quem é que procuram
de noite e dia a trotar?

São os três reis do Oriente,
juntaram-se em romaria.
Andam a ver o Menino,
filho da Virgem Maria.

E a noite é só...
Num ar de maravilha
O círculo da lua amaciou-se.
Entre os piornos a geada brilha
Com um fulgor mais doce.

E a terra dorme...
Sob céus pasmados,
florescem descampados,
a aragem, enternece a um bafo morno.
Um grande alvor dos longes se apodera
Toda a paisagem de Janeiro em torno
se alarga, se alumia, em Primavera!

António Sardinha