Carta de Alexandrina de Balazar a Oliveira Salazar


Excelentíssimo Senhor, digníssimo Presidente do Conselho.

Muito cheia de vergonha e de confusão, venho escrever a Vossa Excelência para cumprir um dever de consciência. Se não fosse esta a vontade de Nosso Senhor, preferiria não o fazer, pois sou uma simples rapariga de campo e confesso-me indigna de escrever a Vossa Excelência. Sofro desde quando tinha 14 anos e por isso faz 22 anos que não sei o que seja viver sem dor. Desde há 15 anos e meio que estou de cama sem jamais poder levantar-me. Nosso Senhor não olhou à minha indignidade, nem à minha grande miséria. Escolheu-me como vítima. Tenho vivido e ainda vivo, graças a Deus, muito desconhecida, fazendo conhecer a minha vida só ao meu Director Espiritual; e não a qualquer outro; a isto obriga-me a necessidade, pois eu não tenho forças para escrever, como desejava: dito apenas e com grande sacrifício. Ora Nosso Senhor veio pedir-me mais este sacrifício. Por amor a Ele aceitei-o com a confiança de que será de muito proveito para as almas. É esta a razão por que me dirijo deste modo a Vossa Excelência, Senhor Doutor Oliveira Salazar. Foi no dia 2 do corrente mês que Nosso Senhor me disse, entre outras coisas, isto:
«– Vai depressa como uma mendiga pedir a esmola para Jesus. Vai a pôr termo depressa, muito depressa à desmoralização das praias. Escreve a Salazar. É ele, só ele, mais que todos os sacerdotes, a pôr termo a tanto pecado. Pede-lhe com insistência que faça mais isto pela Causa de Jesus e por Portugal. Prometo-lhe auxílio e conforto em todos os perigos e necessidades. Prometo-lhe o Céu. Ele, com a autoridade, também pode pôr termo ao pecado da carne, proibindo e castigando».
A mim cabe-me só dizer os desejos de Nosso Senhor. Vossa Excelência fará agora o que desejar, o que achar melhor. Nas minhas pobres orações e sofrimentos não me esqueço de Vossa Excelência, implorando as bênçãos e as graças do Céu, assim como a luz do divino Espírito Santo para que possa continuar a ser a luz e a salvação do nosso caro Portugal; para isto não recuso a Nosso Senhor nenhum sacrifício nem sofrimento. Peço a grande caridade de manter absoluto segredo, como se fosse uma coisa revelada em confissão: pelo amor de Jesus e de Maria, que o meu nome seja esquecido, como se dele nunca tivesse ouvido falar. Sei que é esta a vontade de Nosso Senhor, e portanto também a minha: viver desconhecida aos olhos do mundo. Com a máxima consideração e respeito assino:

A pobre Alexandrina Maria da Costa.

§

É curioso notar que a 7 de Setembro de 1940, poucos dias após esta carta, no jornal poveiro Ideia Nova, se anunciam providências governamentais com vista à moralização das praias.
A 12 Outubro, o mesmo jornal aborda de novo a questão, escrevendo: «Todos os excessos e abusos que contrariam a linha moral de um povo, embora importados, devem ser reprimidos com inteligência e energia, para defesa daquelas tradições de honestidade e carácter que são dos elementos que melhor dignificam e definem um povo».

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